SABIA QUE... - A PEGA -

José Barrinha Cruz 

- «Está fora de dúvida que, em Portugal, e embora com carácter privado, a «pega» vem realizando-se desde a segunda metade do século XVII. Sabe-se que alguns nobres a praticavam por mero prazer no que chegavam a ser acompanhados por D. Afonso VI, depois, por D. Pedro II. É porém natural que o fizessem com reses de pouca presença e que o uso de se cortarem as pontas aos toiros é que tenha dado incremente à acção de pegar toiros, com o consequente fixar de regras e a natural constituição de grupos. Apesar disso, só muito mais tarde a «pega» passa a fazer parte normal do espectáculo tauromáquico português. E se é certo que, ainda no século XVIII, em festividades taurinas aparecem os «monteiros de choca», a verdade é que as discrições dessa festividades, sempre tão minuciosas e explícitas, não referem nunca a sua intervenção além das «cortesias», sendo de supor que figuravam como verdadeiros campinos que tratariam dos toiros que se corriam e matavam em tais espectáculos. E assim acontece por todo o século XVIII, no fim do qual e quando as corridas já são mistas, com a morte de alguns toiros apenas, principiam então a aparecer os referidos «monteiros de choca» então para realizarem as «pegas»que assim principiam a conquistar o seu direito de instalação no espectáculo taurino nacional. 
 Foi isto na antiga praça Lisboeta do Salitre e depressa se divulgou a presença dos pegadores, com maior insistência quanto mais profundas eram as mutilações feitas na estrutura do espectáculo. Assim, quando se estabelece e generaliza o uso das embolações, a «pega» instala-se definitivamente numa espécie de compensação e logo surgem os grupos amadores como se a fidalguia quisesse demonstrar que a abolição da morte do toiro em praça e consequente abrandamento de certos aspectos da lide não só se verificava por carência de intrepidez ou de espírito tradicional. E de tal forma então se divulga a «pega» que o próprio confessor do Rei D. Miguel, o padre Joaquim Duarte, era um dos mais duros pegadores de Salvaterra, de onde era natural. E os melhores tempos da famosa arena do Campo de Santana são-no também porque nessa altura a prática da «pega» atinge extraordinária expressão e regista grandes cultores. É a «pega» considerada como a feição mais profundamente nacional do espectáculo tauromáquico. É evidente que perante o desenvolvimento de uma «pega» não custará a admitir que ela tenha surgido no campo, acidentalmente, numa vulgar peripécia de criação do gado bravo ou até como acção deliberada do homem no sentido de sujeitar as reses para qualquer fim determinado. As chamadas «pegas» de «cernelha»e a «de rabo», hoje praticamente banida, fornecem-nos, de maneira clara, essa origem campestre; a «pega» de frente, porém, com «cite» premeditado, com as ajudas calculadas, com os tempos estabelecidos, tem tal carácter espectacular que só um sentido puramente desportivo podia tê-la concebido e trazido às arenas. E essa concepção curiosa, tão dentro da nossa maneira de ser, é que deve ter sido inteiramente portuguesa, com direito a, como tal, considerada e defendida».

  - José Barrinha Cruz



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