SABIA QUE...

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"SABIA QUE...", é um espaço de cultura taurina , da autoria de José Barrinha da Cruz, e dedicada ao FORCADO, onde se pretende dar a conhecer um pouco da HISTÓRIA DOS FORCADOS.





-   «FORCADO» -  Instrumento que serve para o moço de forcado se defender do toiro quando realiza a «casa da guarda» e que é constituído por uma vara de madeira com cerca de 1,60 m. de secção circular, adelgaçando para uma das extremidades, na qual é aplicada  uma forquilha de metal na extremidade mais grossa. O mesmo que «moço de forcado».
Mesmo quando não façam a «casa da guarda» os «pegadores» devem ostentar os «forcados» durante as «cortesias» ou na cerimónia da «azêmola».

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-   CASA DA GUARDA - «Abertura que antigamente se fazia na trincheira das praças de toiros onde, regra geral,  principiava a escadaria que dava acesso à tribuna real e cuja guarda era confiada aos «monteiros de choca».  Conjunto de moços de forcado, formados em linha junto da trincheira, evitando por meio dos «forcados» que os toiros se aproximem da porção de trincheira que defendem.  
A «Casa da guarda» deve corresponder à expressão nacional da tarefa desempenhada pela guarda de «alabardeiros», tão em uso nas corridas reais espanholas do século XVII e que chegou a figurar nas touradas portuguesas do mesmo período. Com idêntica finalidade, era no entanto menos sangrenta e mais valorosa, porquanto as lanças dos «alabardeiros» eram, nos «monteiros de choca», substituídas por simples «forcados», de modelo semelhante ao que ainda usam os actuais pegadores quando figuram nas «cortesias» ou quando, nas chamadas touradas à antiga  portuguesa, realizam a «casa da guarda». Desaparecido o costume da Família Real entrar para a tribuna por uma extensa escadaria que partia da arena, perdeu-se a verdadeira e primitiva feição da casa da guarda que hoje, nas raras vezes que se leva a efeito, não constitui a defesa de qualquer abertura praticada trincheira. O grupo de pegadores apenas se reúne em determinado lugar da arena, junto da trincheira (em geral à frente do «inteligente» e aí, contando com o apoio que esta oferece aos «forcados», enfrenta os toiros procurando evitar a sua aproximação, num procedimento puramente evocativo.

Vila Franca de Xira 1942 - Grupo de Forcados de Alcochete de Artur Garrett

- Esq. para dirt.: Artur Garrett (Cabo), Fortunato Simões, José Alemão, Gaspar Penetra (Pai), António Sequeira (Sequeirinha), António Verga e Manuel Brigue.
Repare-se que o 1º forcado da esquerda  (Artur Garrett) tem o braço esquerdo agarrado ao «forcado» a apontar ao «testuz» do toiro, e o último já tem o braço  direito. Isso quer dizer que tanto um como  outro, «fecham» o conjunto, assim como a «forquilha» está   a apontar ao «testuz»,  na «vertical» - como deve ser -, uma vez que o toiro ao humilhar «sente mais»  do que a apontar às «embolas». Dois pormenores que hoje nas demonstrações estão adulteradas.


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 -   «MONTEIRO DE CHOCA - Nome por que, primitivamente foram designados os moços de forcado.
      Quando a acção de pegar  toiros principia a fazer parte do espectáculo taurino, aos primeiros indivíduos que aparecem para a realizar é  dado a designação de “monteiros de choca”, que equivale à expressão mais tarde usada e segundo a qual se lhes chamava “moços de curro”. Quer isto dizer que em tal tempo a pega se apresentava mais ligada à campina do que à arena, nesta se exibindo como uma espécie de novidade. Os «monteiro de choca» usavam durante a lide uma indumentária muito semelhante à que , em Espanha, era adoptado do século XVII.   Sapato de atanado, meia branca, calção de veludo, colete de cabedal (justo,  em forma de couraça) com um largo cinturão de fivela metálica e chapéu desabado, de feltro, no género daquele ainda usado pelos «forcados» actuais,  durante as «cortesias». Tal identidade pode nada significar mas, também, pode levar a acreditar que ao surgirem as «pegas» nas arenas taurinas, elas seriam feitas com os toiros em pontas.

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-    MONTEIRO DE FORCADO -  O mesmo do que  «monteiro”  de choca». Não é porém, designação tão antiga como esta  e representa já a intenção de  separar a acção dos «moços de forcado» de qualquer trabalho próprio da lezíria, muito embora a palavra «monteiro» ainda nos fale do campo.

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-     MOÇOS DE CURRO - O mesmo que “careca”; empregado ao serviço dos curros, numa praça de toiros. Cada um dos indivíduos que, nas antigas corridas de amadores desempenhava o papel de campino, na recolha dos toiros, a pé ou a cavalo, chegando,
algumas vezes, a realizar as “pegas”.
No século XIX, quando a «pega» já se achava perfeitamente integrada na estrutura da tourada portuguesa e eram muito frequentes as corridas de amadores, o grupo de moços de curro chegava a ser constituído por 7 ou 8 unidades  designadas por um deles, a que se dava o nome de «maioral» ou «abegão».  Além da recolha das reses, competia também ao grupo, pegar aqueles toiros que o director de corrida julgasse conveniente, especialmente quando a pega de cernelha era a indicada. Muitos dos antigos «amadores» iniciaram a sua actividade taurina, figurando como ”moços de curro” nas corridas dessa época.
Atente-se ao texto de um programa, referindo uma corrida de toiros efectuada a 26 de Abril de 1874, na Praça de Toiros do “Príncipe D. Carlos”: «os homens de forcado, farão as pegas que lhes foram destinadas». 


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-    «MOÇOS DE FORCADO - Cada um dos componentes do grupo de indivíduos que, na tourada portuguesa tem a seu cargo «pegar» os toiros na chamada lide «à portuguesa», grupo que, regra geral se compõe de oito unidades.
Muito embora esteja fora de dúvida que a «pega» já se realizava em Portugal na primeira metade do século XVII, esse facto não implica a presença de grupos de «moços de forcado» que só aparecem, perfeitamente constituídos  nos meados do século XIX  como consequência dos antigos conjuntos   estabelecidos  primeiro pelos «monteiros de choca» e, depois, pelos «moços de curro».  Quando surgem os grupos de «moços de forcado», têm carácter profissional e os amadores, ao aparecerem fazem-no como «moços de curro», dirigidos por um «abegão», em substituição do «cabo». Estas designações ainda se podem encontrar  com certa frequência nos programas de corridas de amadores até ao final do século XIX, muito embora, nos últimos anos, o facto apenas tivesse expressão evocativa porquanto os conjuntos amadores já nessa altura, pela acção e pelo traje, se podem considerar verdadeiros grupos de «moços de forcado». E no século XX, já sem preocupação de distinção, os amadores chamaram a si a primazia da execução, o que se tem acentuado nos últimos anos do século passado, com o acabar dos profissionais em meados do século XX.
O «moço de forcado» traja durante a lide jaqueta de lã com ramagens claras sobre fundo escarlate, camisa branca de colarinho de volta, gravata e cinta vermelha, calção de anta, meia branca e sapato de atanado, na sua cor natural. Na cabeça usa o portuguesíssimo barrete verde com borla e lista vermelha e, nas «cortesias», chapéu de feltro de largas abas e fita na base da copa.
Antigamente, fazia também parte da indumentaria do «moço de forcado» um colete apertado com uma espécie de atacador de cordão vermelho e uma sobre jaqueta de flanela preta que se exibia, ao ombro, apenas durante as «cortesias».

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A PEGA - 
- «Está fora de dúvida que, em Portugal, e embora com carácter privado, a «pega» vem realizando-se desde a segunda metade do século XVII. Sabe-se que alguns nobres a praticavam por mero prazer no que chegavam a ser acompanhados por D. Afonso VI, depois, por D. Pedro II. É porém natural que o fizessem com reses de pouca presença e que o uso de se cortarem as pontas aos toiros é que tenha dado incremente à acção de pegar toiros, com o consequente fixar de regras e a natural constituição de grupos. Apesar disso, só muito mais tarde a «pega» passa a fazer parte normal do espectáculo tauromáquico português. E se é certo que, ainda no século XVIII, em festividades taurinas aparecem os «monteiros de choca», a verdade é que as discrições dessa festividades, sempre tão minuciosas e explícitas, não referem nunca a sua intervenção além das «cortesias», sendo de supor que figuravam como verdadeiros campinos que tratariam dos toiros que se corriam e matavam em tais espectáculos. E assim acontece por todo o século XVIII, no fim do qual e quando as corridas já são mistas, com a morte de alguns toiros apenas, principiam então a aparecer os referidos «monteiros de choca» então para realizarem as «pegas»que assim principiam a conquistar o seu direito de instalação no espectáculo taurino nacional. 
 Foi isto na antiga praça Lisboeta do Salitre e depressa se divulgou a presença dos pegadores, com maior insistência quanto mais profundas eram as mutilações feitas na estrutura do espectáculo. Assim, quando se estabelece e generaliza o uso das embolações, a «pega» instala-se definitivamente numa espécie de compensação e logo surgem os grupos amadores como se a fidalguia quisesse demonstrar que a abolição da morte do toiro em praça e consequente abrandamento de certos aspectos da lide não só se verificava por carência de intrepidez ou de espírito tradicional. E de tal forma então se divulga a «pega» que o próprio confessor do Rei D. Miguel, o padre Joaquim Duarte, era um dos mais duros pegadores de Salvaterra, de onde era natural. E os melhores tempos da famosa arena do Campo de Santana são-no também porque nessa altura a prática da «pega» atinge extraordinária expressão e regista grandes cultores. É a «pega» considerada como a feição mais profundamente nacional do espectáculo tauromáquico. É evidente que perante o desenvolvimento de uma «pega» não custará a admitir que ela tenha surgido no campo, acidentalmente, numa vulgar peripécia de criação do gado bravo ou até como acção deliberada do homem no sentido de sujeitar as reses para qualquer fim determinado. As chamadas «pegas» de «cernelha»e a «de rabo», hoje praticamente banida, fornecem-nos, de maneira clara, essa origem campestre; a «pega» de frente, porém, com «cite» premeditado, com as ajudas calculadas, com os tempos estabelecidos, tem tal carácter espectacular que só um sentido puramente desportivo podia tê-la concebido e trazido às arenas. E essa concepção curiosa, tão dentro da nossa maneira de ser, é que deve ter sido inteiramente portuguesa, com direito a, como tal, considerada e defendida».

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A PEGA DE «CERNELHA»  -
Antigamente pertencia aos campinos executar as pegas de cernelha, costume que se perdeu por passar a caber aos grupos de «forcados» tal tarefa.
Nos princípios do século XX até mais ou menos meados do mesmo, os toiros eram a maioria das vezes já «corridos», o que obrigava a muitas pegas de «cernelha» por corrida, compostas por 8 e 10 toiros -, sendo costume os grupos profissionais terem 2 e 3 cernelheiros para esta modalidade de pega. Actualmente, só em último recurso tal sucede, havendo no entanto alguns grupos que ainda a utilizam nas corridas de seis toiros, - quando a sós -, ou quando o toiro apresenta algum defeito que de todo possa interferir na pega de «caras» .
Hoje, além de cada grupo ter um cernelheiro preparado para essa eventualidade, a mesma começa a rarear, uma vez que, não só as ganadarias tendem a não ter jogos de «cabrestos» devidamente preparados para tal tarefa, como alguns apresentam-se muito novos e com «medo» dos toiros, assim como as principais praças de toiros deixaram de os ter como residentes, como o Campo Pequeno nos anos sessenta.
Trata-se de uma «pega» bastante difícil e complicada, atendendo que são vários os factores que a envolvem. A primeira e mais importante, é que o toiro actual, com menos andamento e a ser lidado na maioria das vezes pela muda de 3 cavalos, quando não quatro; depois, com 2/3 ferros compridos, mais 4 curtos e muitas vezes também por 1 par bandarilhas, violinos e ainda uma “roseta” ou ferro de palmo, chega ao «forcado» completamente esgotado, com bastante sentido e em dificuldade em «encabrestar». Isto, para não falar no «adorno«de alguns cavaleiros ao passarem com as mãos pela «testuz» do toiro e outros pelas «embolas», complicando mais a pega de caras, mas também a de cernelha.     Assim, um jogo de 5 ou até de 6 cabrestos torna-se manifestamente pouco - em algumas praças é o que sai (7 seria o ideal)  - para  «tapar» o toiro, tendo muitas das vezes de ser pegado «isolado», o que se torna difícil , e uma perda de tempo desnecessária.
Além destes pormenores, existem outros que envolvem este tipo de «pega» e que são fundamentais, mas todos eles interligados, ou seja; o toiro e os «cabrestos» como acima é focado; a experiência dos campinos em praça; a partida rápida e simultânea de cernelheiro e rabejador a entrarem pelos «cabrestos»  dentro sem lhes tocar e sem o toiro os ver, e depois, o cernelheiro cair no sítio certo - espádua esquerda - , tendo o rabejador que se preocupar em deixar primeiro o parceiro se «agarrar», para ao mesmo tempo ele se «fechar» no rabo.
Quando o toiro «corre a derrotar« ou se volta para o lado do cernelheiro, é uma pega linda e emocionante - sem  se agarrar aos «ferros»! Muito mais difícil de a concretizar quando o toiro se volta para o lado contrário, uma vez que a pele estica e os rins atiram-no «borda  fora».
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 A PEGA DE «CARAS» - 
Existem três maneiras de «pegas de caras». A primeira, quando já não existe outra hipótese de não deixar o toiro ir «vivo», ou seja, quase a bater no «rabo» -como os antigos forcados, hoje ainda existo, mas com o toiro de frente  - com o grupo todo em «molho», a que se chama «agarrar».
 A segunda, nos mesmos termos, mas com o toiro dentro de «tábuas»e quase a «barbeá-las», ou seja a «sesgo». Nuno Salvação Barreto, seu inventor, recorria a esta técnica, mas com o toiro nos tércios, fazendo a diagonal para as «tábuas». Como é óbvio, nestas duas maneiras de «pegar» não existe cite, tempos e toureio, mas é imprescindível a sua utilização como último recurso para qualquer Grupo.
 É verdade que estas situações surgem, ou porque o toiro apresenta defeitos não percetíveis aos cabos, ou porque o forcado da cara no «receber» não esteve como o cabo pretendia e se vai complicando, ou também porque o toiro se apresenta possante, com idade, «mexido» e manso, mas que se tenta na «cara» a primeira tentativa, indo depois a pior.
Na pega de «cara», depois de o toiro ficar colocado no terreno que o cabo instruiu ao bandarilheiro;  com o toiro de frente para  o forcado e os ajudas devidamente colocados,  o “cite” pode começar. Deve dar-lhe todas as vantagens, mostrar-se bem, chamar e alegrar; parar, marcando a figura; mandar  carregando a sorte, alegrando-o e falar; quando recua, trazer o toiro templado - a mesma velocidade relativa com que o toiro investe -; «consentir», e fechar-se na barbela ou na córnea e, se possível, também de pernas. No caso de o forcado ser «cornaleiro»  directo, este deve «consentir» um pouco mais, dado «fechar-se» num movimento de braços mais curto.
Sendo o FORCADO a muleta do toureio da Corrida à Portuguesa, a «pega» de caras realiza-se marcando os três tempos do toureio apeado; PARAR, MANDAR E TEMPLAR.

 OBS. - Não restam dúvida que a maior parte das ganadarias portuguesas têm encaste espanhol; sabemos também que no toureio a pé o toiro que “mete” um “piton - quer seja esquerdo ou direito -, este será feito pelo “piton” que está bom, no caso dos dois “maus”, despacha-o o mais rápido possível , torna-se evidente que em Portugal fazem a mesma coisa no toureio a cavalo, no “capote” e no Forcado da “cara”. Não sendo tão evidente no primeiro caso, no segundo observa-se melhor e no terceiro isso torna-se flagrante, uma vez que, se os toiros o fazem em lá, o mesmo sucede em Portugal, cuja «muleta» é o FORCADO .
A dificuldade em «pegar» avoluma-se, porque o mais provável é meter uma «bola» por entre as pernas, dar uma «bolada» e até «derrotar» inclinando o forcado para qualquer dos lados, o que faz que muitas das vezes caia fora da «caixa». São estes defeitos e outros, como por exemplo o toiro «burriciego» que sofre de «presbitismo» ou seja, vê ao longe, mas pouco ou nada ao perto; assim como o que não «humilha», em que mete a «cabeça» por alto a «atropelar».
 O mesmo se passa quando um toiro humilha de mais. Aqui ao lado, quando o toureiro percebe isso, ainda tem a hipótese de o “levantar”, dado tornar-se perigoso tourear com o toiro a cheirar as «chinelas», pois no remate dos «lances» ou «passes», altura em que o toiro, por lhe faltar o «engano» que perseguia, o toureiro fica sujeito a um derrote mais ou menos pronunciado, consoante o estado em que o toiro se encontre.
De igual modo sucede com o FORCADO quando este o «templa»; o toiro «arma o derrote» nas “canelas».
Pode dizer-se… «mas o Cabo pode mandar levantar», pois pode, e é isso que manda fazer… mas às vezes há «orelhas moucas».
 Todos estes defeitos e outros, muitas das vezes não são perceptíveis há maioria dos aficionados e «cronistas», razão porque é mais fácil dizer «o forcado da cara não esteve bem a receber».
Ou será que os toiros chegam à  «PEGA de CARAS» sem defeitos? É que dentro da «teia», passa-se muita coisa e, se estivermos atentos, quando «toca para a cara», percebe-se isso. Não quer dizer que todos os forcados estejam  bem com os  toiros, de maneira nenhuma, porque alguns o não estão, só que a «pega”» é feita de muitos pormenores que, mesmo que possam parecer pequenos,  interferem, e de que maneira, na conclusão de uma boa pega há primeira.
Fácil analisar e criticar, difícil é «pegar» em milésimos de segundo um «comboio» a mudar constantemente de «agulha»,  de «percurso» e que não abranda no «apeadeiro», nem para  na «estação».

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 A PEGA DE «CADEIRA» - 
Muito popular nos anos 20/30 e praticada por José Luís Valentim, requer muita prática, inteligência e fundamentalmente técnica.
Se bem que actualmente ela apareça nas demonstrações das  «antigas» dessas épocas, não tem nada a ver como na realidade ela deve ser feita, e era, nessas épocas.
«O Forcado, com a cadeira na mão vai andando para o toiro e, a meio da praça cita o toiro, após este  arrancar, o forcado, sempre com a cadeira na mão, volta-se de costas para o toiro e, olhando por cima do ombro vê o andamento, a  quatro/cinco metros,  - sempre com a cadeira na mão – pousa esta no chão e senta-se – com as costas da cadeira virada para a sua «barriga», abre os braços e faz a pega de costas.
Todos estes movimentos têm de ser bem calculados e não bruscos para o toiro humilhar correctamente.  É evidente que a cadeira parte-se por todos ao lados. Foi o que sucedeu ao    antigo  Forcado de Alcochete -  Gaspar Penetra  (Pai) quando a fez, - já com 70 anos-,  por ocasião de uma brincadeira com vacas na praça de toiros de Alcochete. Foi a primeira vez    e única que presenciei tal modalidade de «pega».
 Parece-se com a «pega de costas», só que aqui não há o correr junto às tábuas, passar pela cara do toiro e recuar de costas   em função da velocidade do toiro.
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A PEGA DE «COSTAS» -

-«A pega de costas, muito embora possa executar-se como a de caras, apenas com a diferença do pegador voltar as costas ao toiro, regra geral obedece a um procedimento diferente. Assim, estando o grupo no meio da arena e o o toiro em «tábuas», o «forcado» pegador sairá delas correndo, por forma a provocar a perseguição, aguardando assim o momento do «derrote» para então ficar na cabeça, altura em que o grupo deve intervir a fim de prestar as suas ajudas
Esta maneira de pegar toiros é extremamente espectacular e como eram  muito raros os bons especialistas da  modalidade, a sua execução era sempre festejadíssima pelos públicos das praças portuguesas».
José Luís Valentim foi o primeiro forcado a executá-la  na perfeição nos anos 20 e José Luís Coragem na época de 40/50 também a utilizou muitas vezes com correcção.
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A PEGA DE «RABO» -
Esta maneira de pegar toiros, de expressão individual, não pode dizer-se que  tenha sido banida das arenas porquanto, todos os dias e embora sem intensão de a realizarem, os «forcados» a levam a efeito como remate das acções correntes, usadas pelos grupos. Em épocas anteriores foi porém usual realizar-se a «pega» «de rabo» cujo desenvolvimento tem pontos de semelhança com o vulgar «coleo» que, em momentos de apuro, surge como expressão de «quite». O «coleo», porém, apresenta-se como um recurso, o que não se verificava com a «pega de rabo» que se executava nas touradas portuguesas do século XIX. Este tipo de «pega» tinha lugar, como a actual «cernelha», quando os «cabrestos» saíam para a arena a fim de recolher os toiros corridos em lide ordinária. 
Quando o toiro a pegar se achava bem «encabrestado» e imprimida ao conjunto uma certa velocidade de  marcha,  o pegador (em regra um «campino») procura alcançar o toiro em perseguição protegido pela  muralha constituída  pelos «cabrestos». Conseguido o seu intento, agarrava fortemente o rabo do animal pela parte superior, cingindo-se o mais possível para evitar ser atingido pelos coices. Com esta acção se obrigava, naturalmente, o toiro a isolar-se do grupo dos mansos. E quando isto sucedia, sentindo-se  preso, o toiro reagia, dobrando-se  no intuito de atingir, com a cabeça  o seu pegador. Então este, deixando deslizar, até à altura conveniente, a mão que segurava o rabo, com  a outra alcançaria um dos cornos – o de dentro. Desta forma e segurando simultaneamente o corno e o rabo, obrigava o toiro a uma posição em que podia considerar-se subjugado muito embora lhe fosse possível realizar  uma marcha de roda. O remate  desta «pega» era realizado com o auxílio de um capote, que facilitaria a «saída» ao toiro, quando não era o próprio movimento circular que permitia ao «pegador» escapar-se com a maior segurança.
 Como se vê, pode dizer-se que a «pega de rabo» ainda hoje aparece parcialmente nas arenas, através do recreio a que os «rabejadores» tantas vezes se entregam no final das «pegas de caras» ou de cernelha».

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PORQUE É QUE SE PEGAM TOIROS? (REFLEXÃO)
 «A questão é colocada regularmente, de forma explicita ou implícita, e por gente tão variada que vai do muito ao nada aficionada.
 Compreende-se que não seja muito difícil sentir-se simpatia por alguém que consegue colocar-se  à frente de um toiro. Compreende-se que a interrogações sobre as motivações que levam alguém a pegar toiros, paire na mente das pessoas. Receio, no entanto, que as  respostas encontradas, surjam frequentemente relacionadas com a necessidade de afirmação da valentia, coragem e virilidade próprios da juventude. É uma análise simplista, que mistura sentimentos de admiração com paternalismo, que reconhece no forcado a valentia do herói, e simultaneamente lhe atribui um elevado grau de imaturidade. O próprio termo “amadorismo” é um neologismo que caracteriza quem vive a Festa por prazer, por pura “afición”.
      Talvez estas as justificações encontradas para relegar sistematicamente os forcados para um plano secundário, no respeitante aos direitos na Festa de Toiros em Portugal. Na verdade, não se tem  conseguido evitar que, no meio, os forcados se sintam os parentes pobres da Festa, ou se quiserem, os seus mais fortes sobreviventes.
     Desde o Regulamento Tauromáquico, que limita o tempo ou o  número de tentativas para se pegar cada toiro, ou que limita o número de forcados a fardar em cada corrida, até à inacreditável insistência na manutenção das bandarilhas não quebráveis, que muitos exemplos e testemunhos se poderiam apresentar. Vale-nos a nós, forcados, a compreensão e solidariedade  de algumas personagens preponderantes nas corridas. Obviamente que é situação que não nos pode satisfazer, será sempre preferível a reforma à frágil sustentação do remendo. Os dois exemplos que apontei revelam desrespeito,  por desconhecimento, do que verdadeiramente move os forcados quanto ao Regulamento Tauromáquico, e quanto  às bandarilhas seria  bom que fosse suficiente os dois acidentes fatais ocorridos nas duas últimas temporadas, para pôr definitivamente cobro a essa situação. As bandarilhas, em Portugal, são responsáveis por grande parte dos acidentes sofridos pelos forcados, em praça. No mundo tauromáquico somos o único  país que ainda não aderiu à segurança das bandarilhas quebráveis. Quem  mais sofre são os forcados.
    O paradoxo de tudo isto, é que apesar desta ausência de voz activa  e de direitos elementares, o número de grupos de forcados tem vindo a aumentar. É um fenómeno curioso, que tem a sua justificação na mística que os grupos de forcados vão conseguindo criar.  Pior instinto de sobrevivência, ou não, os grupos de forcados encerram em si um ambiente próprio, que os torna  exclusivos e extraordinários.  A entrega generosa, honesta e empenhada, consequentemente eficaz, em que a força da convicção dos valores defendidos torna os  grupos sólidos na sua estrutura, advém  exactamente da mística própria de cada grupo com o qual os jovens se vão identificando. É importante  ver conhecer que a efémera necessidade de afirmação de valentia e coragem, cede lugar à amizade, ao forte sentido de grupo e à afición. Esta postura em que os forcados insistem em provar que não é utopia, altera saudavelmente a vida de todos aqueles que algum dia vestiram uma jaqueta. A mística transporta-se naturalmente, também, para o cumprimento do dever em praça: todos os toiros são para ser  pegados, independentemente da sua dificuldade. É um princípio importante, que embora não controlemos em absoluto. Se torna ponto de honra em muitos grupos. Na verdade, o sentido de responsabilidade dos forcados, pauta-se pelas mesmas obrigações que qualquer outro toureiro, embora porventura com diferentes motivações: tourear com verdade, entrega e técnica, no
intuito de oferecer o melhor espectáculo possível ao público, dignificando a corrida à portuguesa.
    O mais antigo e um dos mais respeitados empresários portugueses, Alfredo Ovelha, disse-me uma vez “os forcados deviam assumir-se como cabeça de cartaz que são”! Conversávamos na altura sobre a dificuldade crescente que os grupos sentem em ver satisfeito o pagamento de um valor sensato por cada actuação, por forma a contribuir para fazer face às despesas que têm. Pessoalmente, gostaria de conhecer um  dia, o resultado de um inquérito credível que se realizasse junto ao público que paga o seu bilhete, sobre qual a hierarquia de popularidade dos diversos artistas  intervenientes numa corrida de toiros à portuguesa.
   Em Portugal, o espectáculo tauromáquico está em segundo lugar na adesão de público. A seguir ao futebol, continua a ser o espectáculo que mobilize mais público. No entanto, o sentimento generalizado é de alguma frustração. Todos sentimos algum vazio nas nossas praças, todos sentimos que um maior número de corridas deveriam ser viáveis. Serve-nos o exemplo espanhol para nos lembrar que quando assumirmos a corrida à portuguesa como espectáculo nacional, como herança cultural importante, reveladora da peculiaridade de um povo, o sucesso  é uma mera questão de tempo que a importância então atribuída à Festa necessitar para alterar o que é preciso.
     Como forcado, quero acreditar que, no fundo, a interrogação sobre as razões que levam um forcado a pegar toiros, deixe de fazer sentido ser colocada neste país».

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 OS «ESTADOS» DO TOIRO DE LIDE -
 
- Os «estados» do toiro têm decisiva influência na lide e pode dizer-se que esta foi ordenada e dividida em obediência às suas exigências. Na realidade, o capote, as bandarilhas e a «muleta» surgem para  proporcionar um toureio perfeitamente adequado às condições que os toiros vão sucessivamente apresentando. Isto, evidentemente, no que respeita aos «estados» principais comuns a todos os toiros dentro das condições de uma lide uniforme pois os secundários variam tanto de animal  para animal que impossível seria estabelecerem-se  princípios gerais de técnica ou de estrutura para cada  um deles. Em tais casos cabe ao toureiro avaliar da situação para que possa dominá-la da maneira  mais conveniente.

Os «estados» principais, são três: «levantado», «parado» e «aplomado» (pela ordem  em que se manifestam). Os secundários são diversos. Devendo salientar-se os seguintes, cada um com as suas características próprias:  «apurado», «avisado», «crescido», «descomposto», «enquerençado», «incerto» e «QUEDADO».

- APLOMADO – Os toiros no terceiro estado (aplomados) caracterizam-se por uma espécie de cansaço, em consequência do qual os seus movimentos são menos rápidos mas, por isso mesmo, mais incisivos os seus ataques, parecendo que ganharam em «sentido» o que em vigor físico lhe  foi minguado pelos incidentes da lide. É neste «estado» que as «faenas» se realizam».

- QUEDADO – «Estado» intermediário do toiro durante a lide, que se caracteriza por certa renúncia em acometer quase sempre em consequência do cansaço resultante das peripécias da lide. Como facilmente se compreende, um toiro «quedado» revela um sentido de defesa que o torna difícil quando não mesmo perigoso. (a)

    (a) - É neste «estado», quedado -   e não  aplomado  como agora se diz -,  que a grande maioria dos nossos cavaleiros deixam o toiro para o FORCADO PEGAR,  muitas das vezes, para satisfazer o seu ??? público, «espetam» mais um «ferrinho»!

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