José Barrinha da Cruz
Antigamente pertencia aos campinos executar as
pegas de cernelha, costume que se perdeu por passar a caber aos grupos de
«forcados» tal tarefa.
Nos princípios do
século XX até mais ou menos meados do mesmo, os toiros eram a maioria das vezes
já «corridos», o que obrigava a muitas pegas de «cernelha» por corrida,
compostas por 8 e 10 toiros -, sendo costume os grupos profissionais terem 2 e
3 cernelheiros para esta modalidade de pega. Actualmente, só em último recurso
tal sucede, havendo no entanto alguns grupos que ainda a utilizam nas corridas
de seis toiros, - quando a sós -, ou quando o toiro apresenta algum defeito que
de todo possa interferir na pega de «caras» .
Hoje, além de cada
grupo ter um cernelheiro preparado para essa eventualidade, a mesma começa a
rarear, uma vez que, não só as ganadarias tendem a não ter jogos de «cabrestos»
devidamente preparados para tal tarefa, como alguns apresentam-se muito novos e
com «medo» dos toiros, assim como as principais praças de toiros deixaram de os
ter como residentes, como o Campo Pequeno nos anos sessenta.
Trata-se de uma
«pega» bastante difícil e complicada, atendendo que são vários os factores que
a envolvem. A primeira e mais importante, é que o toiro actual, com menos
andamento e a ser lidado na maioria das vezes pela muda de 3 cavalos, quando
não quatro; depois, com 2/3 ferros compridos, mais 4 curtos e muitas vezes
também por 1 par bandarilhas, violinos e ainda uma “roseta” ou ferro de palmo,
chega ao «forcado» completamente esgotado, com bastante sentido e em
dificuldade em «encabrestar». Isto, para não falar no «adorno«de alguns
cavaleiros ao passarem com as mãos pela «testuz» do toiro e outros pelas
«embolas», complicando mais a pega de caras, mas também a de cernelha. Assim, um jogo de 5 ou até de 6 cabrestos
torna-se manifestamente pouco - em algumas praças é o que sai (7 seria o ideal) - para
«tapar» o toiro, tendo muitas das vezes de ser pegado «isolado», o que
se torna difícil , e uma perda de tempo desnecessária.
Além destes
pormenores, existem outros que envolvem este tipo de «pega» e que são
fundamentais, mas todos eles interligados, ou seja; o toiro e os «cabrestos»
como acima é focado; a experiência dos campinos em praça; a partida rápida e
simultânea de cernelheiro e rabejador a entrarem pelos «cabrestos» dentro sem lhes tocar e sem o toiro os ver, e
depois, o cernelheiro cair no sítio certo - espádua esquerda - , tendo o rabejador
que se preocupar em deixar primeiro o parceiro se «agarrar», para ao mesmo
tempo ele se «fechar» no rabo.
Quando o toiro
«corre a derrotar« ou se volta para o lado do cernelheiro, é uma pega linda e
emocionante - sem se agarrar aos
«ferros»! Muito mais difícil de a concretizar quando o toiro se volta para o
lado contrário, uma vez que a pele estica e os rins atiram-no «borda fora».
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